quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

A TV é o ópio divino


A dona Palmira atira um "Valha-me Deus" e o filho é arremessado para o r/c do número oito, enquanto o pai prolonga a tarefa laboral em casa. A senhorinha é bem mais confortável do que a cadeira de lona do Centro de Emprego, adquirida durante o Governo de Aníbal Cavaco Silva, mas o cheiro da Maria das Dores teima em não se ausentar do nobre poiso.  

 

Atravesso a estrada, abro o boião e dou a papa Nestlé à septuagenária que acabara de arrancar o antepenúltimo dente no William, o dentista do Seará. Aproveito para desfrutar do meu luxo diário, o Jornal das 9. Os serões informativos são passado de sala em sala, em sete dias percorro sete distintas salas forradas com papel de parede como se fossem prendas do Natal de 1932. A minha actividade profissional - bem remunerada – obriga-me a adoptar uma postura sociável, transformei-me num servo dos pobres e desfavorecidos.

 

A televisão berra o genérico. A Palmira berra como uma criança esfomeada. E eu, para estar a par das novidades do dia peguei no Suptnik e só aterrei quando chegou ao esófago. Durante os cinco segundos de silêncio ouvi: Fique connosco, informe-se de facto”, o tempo para a avozinha ganhar fôlego e gitar: “Põe na TVI 24 para ver o grávido”. Oh pai, eu só te tirei cinco euros para um café e um maço de cigarros

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