A dona Palmira atira um "Valha-me Deus" e o filho é arremessado para o r/c do número oito, enquanto o pai prolonga a tarefa laboral em casa. A senhorinha é bem mais confortável do que a cadeira de lona do Centro de Emprego, adquirida durante o Governo de Aníbal Cavaco Silva, mas o cheiro da Maria das Dores teima em não se ausentar do nobre poiso.
Atravesso a estrada, abro o boião e dou a papa Nestlé à septuagenária que acabara de arrancar o antepenúltimo dente no William, o dentista do Seará. Aproveito para desfrutar do meu luxo diário, o Jornal das 9. Os serões informativos são passado de sala em sala, em sete dias percorro sete distintas salas forradas com papel de parede como se fossem prendas do Natal de 1932. A minha actividade profissional - bem remunerada – obriga-me a adoptar uma postura sociável, transformei-me num servo dos pobres e desfavorecidos.
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